A exposição é a primeira entre as cerca de 30 mostras já realizadas pelo Arquivo Nacionalinteiramente dedicada ao tema dos povos indígenas. A curadoria seguiu os itineráriospercorridos por cronistas, religiosos, naturalistas, militares, fotógrafos, antropólogos eadministradores, em seu contato com os indígenas aos quais impuseram cartografias, língua,cultura, crenças, leis e, não raro, a violência física.
O contato entre europeus e índios emerge no acervo do Arquivo Nacional nas narrativas deviagens e gravuras reunidas em livros que circulam desde o século XVI; na vasta e únicacorrespondência da Coroa portuguesa em manuscritos; nos decretos imperiais ou naConstituição federal de 1934, alguns apresentados em seus originais, muitos outros quasedesconhecidos e pela primeira vez exibidos ao público como álbuns de missões religiosas edo Serviço de Proteção aos Índios na primeira metade do século XX.
A partir dos anos de 1930, esses percursos receberam a cobertura jornalística de um dosmais importantes periódicos brasileiros, o Correio da Manhã, cujos arquivos guardamfotografias de estúdio de índias Bororo e as imagens trêmulas da atração aos Xavante nofinal da década de 1940, além da atividade de campo dos irmãos sertanistas Villas-Boas, eas iniciativas de aproximação entre presidentes e povos indígenas como o encontro deGetúlio Vargas e um grupo Xavante no Catete pelas lentes da Agência Nacional.
Organizada em dois módulos, com cerca de 200 documentos entre reproduções e originaisconservados pela instituição, a exposição, valendo-se de pesquisa a grandes conjuntosdocumentais, públicos e privados, compreendidos entre os séculos XVI e XX, articulaetnias, rituais, regiões, narrativas de viagens, economia e política.
Completa a exposição o vídeo Descaminhos, elaborado a partir de filmes e fotografias devárias épocas, selecionados no acervo do Arquivo Nacional e que aborda a vida dosindígenas desde a chegada dos europeus até as imagens e vozes contemporâneas de índiosque descrevem a imensa dificuldade em enfrentar grandes empresas e latifundiários, embusca de segurança e sobrevivência.
Itinerários seguidos pelos cinco milhões de índios estimados à época da conquista, e decentenas de povos cultural e linguisticamente diversos que desapareceram. Na década de1950, Darcy Ribeiro identificou quase oitenta grupos indígenas extintos ao longo do séculoXX, apontando para um iminente desaparecimento dessas populações que não seconcretizou. O aumento demográfico indígena verificado a partir dos anos 1970 se deveuaos programas de saúde e educação adotados pelos órgãos indigenistas e pelofortalecimento do sistema imunológico dos índios ao longo dos anos de contato.
Esse crescimento, que parece ser contínuo e consolidado, confirma que os índios estão aquipara ficar. Fazem parte do nosso presente e farão parte do futuro deste país.
Curadoria: Claudia Beatriz Heynemann | Maria Elizabeth Brea